Neste novo texto quero refletir com vocês sobre o papel dos pais durante o processo de escolha profissional do filho e finalizar dando 3 dicas práticas que podem ajudar bastante.
Em minhas observações e estudos, percebi que há basicamente 3 tipos de modelo de influência paternas: pais autoritários (decidem pelo filho); pais desinteressados (abandonam o filho) e pais democráticos (não decidem pelo filho, mas ajudam-no a refletir).
No momento de decidir sobre qual profissão escolher, o jovem se vê rodeado por inúmeras influências: mídia, escola, amigos. Mas, nenhuma influência é tão contundente como aquela exercida pela família. Às vezes, a influência é invertida e já foi tema de tanto conflito no interior do lar, que há jovens que escolhem qualquer coisa, desde que não tenham de seguir o modelo dos pais.
Neste trabalho já passei por muitas histórias e decidi contar, nesta publicação, a história da Rosângela e da Jheny (mãe e filha) porque tenho certeza que poderá ajudar muitos pais que estão vivenciando este delicado momento com seus filhos.
A Jheny é uma adolescente de 17 anos com uma mente brilhante. Desde muito pequena sempre foi estimulada pela família a desenvolver suas diversas habilidades. Sendo assim, ela adora música (toca piano), ama línguas (estudou inglês, italiano e francês, sem contar os outros idiomas que explora apenas pelo gosto de aprender). Na época em que a conheci, além de tudo isso, ainda fazia aulas de informática, cursinho pré-vestibular, natação e frequentava a igreja. Só em pensar nesta rotina, confesso que eu já ficava cansada. Não é difícil imaginar que, com um perfil destes, ela enxergava muitas possibilidades para o seu futuro. Jheny tem uma personalidade extrovertida o que a torna extremamente comunicativa e, também, ama escrever. Em seu processo de Orientação Vocacional e Profissional, um dos seus valores mais marcantes estava na facilidade que tem de aprender. A jovem tem um verdadeiro fascínio por novas descobertas e por saber a origem das coisas. Com seu espírito desbravador, sonha em conhecer o mundo e colaborar com uma grande causa para ajudar pessoas. Ela não prefere uma área específica para estudar porque se interessa por todas. Esse é o desafio que poderá se apresentar na hora em que Jheny precisar escolher, de início, apenas uma profissão.
Neste contexto, entrou o papel da família. Rosângela, uma jovem mãe, acompanhou todo esse processo e continuou estimulando a exploração da filha em busca de um futuro. Desde o 2º ano do ensino médio acompanhou a Jheny em feiras da profissão, visitou eventos de intercâmbio, locais de trabalho onde a filha demonstrava interesse e agendou conversas com profissionais de diversas áreas de atuação. O papel de Rosângela, nesta caminhada, foi de grande importância, ela curtiu cada momento junto com sua filha primogênita, emprestou sua escuta com gosto, elaborou perguntas para que a Jheny pudesse enxergar as limitações e potencialidades de cada possível escolha, até que a decisão pudesse ser amadurecida e elaborada.
Veja quanta sabedoria no depoimento das duas:
“Fico muito feliz em acompanhar minha filha aos lugares que trazem conhecimento e crescimento pessoal, cultural e acadêmico, às vezes por mim e outras vezes por professores. Sempre estarei ao lado dela orientando, apoiando e incentivando-a para tornar seus sonhos realidade. Assim, a profissão que ela escolheu eu sei que será exercida com dedicação e jamais por obrigação, porque ela é livre para ser uma excelente profissional.” (Rosângela, formada em Comércio Exterior).
“Praticamente todos os cursos que eu faço lugares que fui pessoas que conheci escolhas que fiz, a maneira como fui criada e adquiri meus valores, filosofia de vida e meu próprio senso crítico foram por meio da minha família. O espelho de como ser e de como não ser também são pontos relevantes a serem citados. Meus pais têm indispensável importância em minha vida, principalmente me colocando em cursos que me agregam muito, não só como estudante, mas como ser humano. A família influencia na maneira como trata o filho em casa, como o estimula, incentiva, orienta e prepara para as diversas situações da vida acadêmica e no mercado de trabalho, quando dá liberdade, que qualquer pessoa necessita, para ser um verdadeiro profissional com excelência e o principal, se descobrir. Portanto, a família dando a base e a direção, as descobertas vêm como consequência. Ninguém descobre o que quer ser, mas sim o que já é por essência.” (Jheny, 17 anos, estudante).
Depois deste relato, maravilhoso, gostaria de sugerir algumas dicas para os pais que estão passando por isso.
Primeira dica: entendam que os tempos mudaram.
Até a década de 90, apenas cerca de 2% da população brasileira tinha nível superior. O acesso era extremamente concorrido e poucos cursos eram oferecidos. Era comum ouvir alguém que concluiu o ensino médio (antigo colegial) falar: “terminei meus estudos”. Hoje falamos em planejamento de carreira, pois o jovem faz a faculdade já pensando na especialização, intercâmbio, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Ampliou-se a oferta, as possibilidades e os financiamentos.
Os tempos mudaram, e uma reflexão sobre a estabilidade no emprego se faz necessária. Estabilidade é uma máxima que também não se aplica mais para os dias atuais. Cada vez mais está diminuindo a oferta de empregos públicos. Além disso, se antigamente era comum um jovem ser contratado como aprendiz em uma empresa e sair de lá aposentado, hoje esta não é mais a realidade do mercado de trabalho. As pessoas ficam, em média, no máximo 3 anos em uma empresa ou cargo, se passar disto, para o cenário profissional, é considerada como acomodada e, mesmo, ultrapassada. Agora, como ser empreendedor de si, fazendo o que não gosta ou o que não tem aptidão para realizar?
Segunda dica: ouça seu filho sem julgamento
Em minha experiência no consultório e em sala de aula como docente, percebo a falta que faz o diálogo nas famílias. Vejo tantos jovens, talentosos e com grande potencial, exalando inseguranças e incertezas que poderiam ao menos ser amenizadas se tivessem uma referência, alguém em casa com quem pudessem compartilhar suas impressões sobre o mundo, trocar ideias, falar de seus sonhos, planos e medos.
Não é fácil ser adolescente nos dias de hoje. É preciso lidar com as mudanças internas (hormônios) e as externas, que se apresentam cada vez mais velozes. O mundo e o sistema cruel que o comanda tem a competitividade como regra o que torna a maioria das pessoas, insensíveis. Entretanto, acolher com carinho e compreensão as inquietações do seu filho ou sua filha, presentes neste cenário, pode ser a melhor medida para a felicidade e a segurança de que tanto precisam.
Terceira dica: sejam pais participativos
Acompanhe e/ou estimule seu filho(a) a participar das feiras de profissão, intercâmbio, eventos como faculdade de portas abertas e exposições relativas, entre outros eventos. Verifique a possibilidade de algum amigo recebê-lo em seu escritório, consultório, clínica, ateliê, produtora, empresa, ou seja, algum contato que possa aproximar este ou esta jovem da realidade do mundo do trabalho.
Muitas são as atitudes que podem favorecer e mesmo ajudar a encontrar o melhor caminho a seguir. Acredite!